Um tanto desorientado, numa
pegada do tipo deixa a vida me levar,
eis que me esbarro com uma frase de
Clarice Lispector e encontro a definição do momento, afinal perder-se também é
caminho, perder-se é também se
encontrar, é ganhar.
Confesso que o perder-se também é
difícil, pois a razão a todo instante recobra a necessidade da ordem, não
conseguindo abstrair. É preciso deixar o inconsciente sobressair, pois ele sim
compreende que o perder-se promove os ajustes de que minha alma carece nesses
instantes longos.
Vou andando pelas estradas, ruas,
vielas e avenidas da vida, sem prestar atenção nas placas, sem se preocupar se
é mão ou via dupla, não me importa de tem algo atrás ou na frente, apenas
observo, toco, olho, cheiro e deixo as sensações fluírem, trazendo experiências que racionalmente
seriam difíceis de entender, para não dizer que passariam despercebidas,
cairiam no esquecimento.
Esquecer-se no tempo é uma
deliciosa sensação, esvair-se ensimesmado, tudo vai acalentando aquele lado
mágico nosso, que nos torna sensivelmente fortes. Refuto qualquer ideia que se pretende
ter ares científicos, resguardando aqui a semântica ampla do termo.
Mesmo que seja um verdadeiro
caminho das pedras tal atitude, quero tropeçar em cada uma, ver suas variedades
de cor, tamanho, textura...Não quero arrumar rapidamente maneiras de achar-me,
pois quero ajustes na alma. Aliás, para se viver bem no mundo material, a alma
precisa estar ajustada, assim o irreal comanda o real num prisma surreal.