domingo, 4 de outubro de 2015

Perder-se: um ajuste da alma


Um tanto desorientado, numa pegada do tipo  deixa a vida me levar, eis que me esbarro  com uma frase de Clarice Lispector e encontro a definição do momento, afinal perder-se também é caminho, perder-se  é também se encontrar, é ganhar.

Confesso que o perder-se também é difícil, pois a razão a todo instante recobra a necessidade da ordem, não conseguindo abstrair. É preciso deixar o inconsciente sobressair, pois ele sim compreende que o perder-se promove os ajustes de que minha alma carece nesses instantes longos.

Vou andando pelas estradas, ruas, vielas e avenidas da vida, sem prestar atenção nas placas, sem se preocupar se é mão ou via dupla, não me importa de tem algo atrás ou na frente, apenas observo, toco, olho, cheiro e deixo as sensações  fluírem, trazendo experiências que racionalmente seriam difíceis de entender, para não dizer que passariam despercebidas, cairiam no esquecimento.

Esquecer-se no tempo é uma deliciosa sensação, esvair-se ensimesmado, tudo vai acalentando aquele lado mágico nosso, que nos torna sensivelmente fortes. Refuto qualquer ideia que se pretende ter ares científicos, resguardando aqui a semântica ampla do termo.

Mesmo que seja um verdadeiro caminho das pedras tal atitude, quero tropeçar em cada uma, ver suas variedades de cor, tamanho, textura...Não quero arrumar rapidamente maneiras de achar-me, pois quero ajustes na alma. Aliás, para se viver bem no mundo material, a alma precisa estar ajustada, assim o irreal comanda o real num prisma surreal.